
Hoje eu poderia falar da dança debaixo de chuva, do menino correndo com a corneta na mão, poderia falar das rizadas, do 'destrambelhamento', de qualquer outra coisa que me aconteceu, mas não.
Hoje não vim falar de flores e de amores.
Hoje eu tô assim, tão cheia de mim e ao mesmo tempo vazia.
Não sei se é a doença iminente que está me deixando sem graça, mas sabe quando você espera algo, todos comentam e quando você está lá, prestes a abrir o presente, percebe que não é aquele que você esperava? E se for?
Ah... eu tô com medo! Medo do que eu vou ouvir e ver, medo do que posso perder... mas não é melhor perder do que nunca ter?
Vai saber.
Eu quero correr... correr sem olhar pra trás, sentir os pés tocando o chão e me levando pra bem longe de qualquer lugar. Correr até não aguentar mais, e quando eu não conseguir mais delizar, eu quero me jogar no chão e olhar para o céu, gritar bem alto e ser eu.
Você já se perguntou o quanto você é você mesmo no seu dia? O quanto faz o que quer, o quanto diz o que pensa, o quanto é simplesmente por ser?
As vezes me sinto tão presa em mim. Por que isso se o que está aqui dentro se mostra tão bonito?
Que se dane os conceitos e os preconceitos também. Que se dane a arrongância, a ganância, o rancor, o orgulho... que só me sobre o amor. A paz no coração, a alegria de se ter irmãos... a música, a arte e a poesia.
Que sobre as coisas boas, que o resto não tenha mais serventia.
Hoje eu vim falar da dor... da dor que se forma sem ter forma. Se forma sem porquê, que nos impede de viver. Ela vem assim, não pegunta nada, e dói, simplismente dói.
"Poderia ser tudo flores, mas me deixaram os espinhos nas mãos e jogaram as pétalas no mar. Pelo menos está no mar, ainda as posso encontrar. Eles não sabem, mas o mar é meu padrinho."
(Jéssica Trabuco)