Normalmente quando se fala de ideologia, a primeira coisa que nos vem a mente é a letra da música de Cazuza: “Ideologia, eu quero uma pra viver”.
Mas o que aparece como algo benéfico pode ser também uma forma de manipulação e dominação de classes. Existem dois tipos de ideologia: a neutra e a crítica, sendo a crítica a em questão.
A ideologia crítica, de maneira mais astuta, faz de muitos da nossa sociedade, seres alienados. Tendo as “idéias” jogadas por ela como sendo verdadeiras, absorvendo-as de maneira passiva.
É uma maneira de camuflar a verdade, dando para ela uma forma bonita e bondosa.
A ideologia faz com que os efeitos sejam combatidos como causas, transformando os verdadeiros vilões em mocinhos, e aqueles que são os violentados na história toda, se transformam nos vilões.
O racismo é um grande exemplo de ideologia. Onde, se faz crer que a cor da pele, ou a nacionalidade de um ser, pode ditar que tipo de pessoa ele é. E para proteger e fortalecer a sua própria raça, não se aceita nada de diferente, de outro lugar que não seja o mesmo seu, ou algo que se assemelhe com os seus iguais.
O incrível na questão da ideologia crítica, por exemplo, é que os marginalizados da nossa sociedade estão lá por grande parte nossa. Um dos frutos da ideologia foi nos fazer crer que nascemos de um jeito e morreremos desse mesmo modo. Sendo assim, aqueles que por algum motivo estão em uma classe menos favorecida na nossa sociedade, não recebem oportunidades para que possam evoluir financeiro e socialmente. Em vez de estarmos os apoiando nesse sentido, estamos os colocando contra a parede, estamos pressionando-os, por meio da comunicação em massa, a serem como “nós”. E qual seria a alternativa, para alguém que não tem uma educação de qualidade, não consegue um emprego, que vê seus familiares passando fome, que recebe discriminação e preconceito por parte da sociedade, e ainda recebe diariamente um bombardeio da mídia dizendo que só se é bom tendo aquele produto; a não ser a vida do crime?!
A ideologia crítica nos torna seres frios e calculistas.
O pensamento no outro não se torna mais necessário, visto que, para sobreviver no nosso mundo capitalista atual, deve-se apenas ser individualista e fazer o que for necessário para subir até o topo da pirâmide. O que se faz para conseguir isso já não é tão mais relevante se você consegue atingir o seu objetivo. E é exatamente isso, a ideologia serve de escada para que se consiga alcançar o topo, o problema é que mesmo os amassados embaixo dela, não conseguem ver isso tão nitidamente. Na política, por exemplo, em quase toda a sua maioria, os políticos estão preocupados mesmo com que a ignorância do povo continue e perpetue, por isso é colocado à frente dos nossos olhos vendas bem escuras, divertimentos, copas do mundo, olimpíadas, “pão e vinho”, para que nossas mentes se dispersem e não nos interessemos por política. Essa é a ideologia deles, porque nos “distraindo” eles continuarão com suas corrupções, felizes e tranqüilos, e nós continuaremos a financiar tudo isso de todo o agrado.
Dentro da ideologia, o que não podemos esquecer é que existe a alienação, mas também existe a reflexão. E é isso que todos deveriam fazer antes de aceitar qualquer discurso como verdadeiro, qualquer “carma” como justo. E para refletir friamente sobre a nossa sociedade atual, sobre a que ponto estamos, é necessário se desvincular de toda a informação manipulada que é recebida, deve-se ler, estudar, criticar, refletir, pensar.
Talvez assim, numa sociedade de críticos, reflexivos, de ativos antes de passivos, as ideologias jogadas na nossa história sejam dissolvidas finalmente, e evaporem para bem longe de nós. E no lugar delas, surjam as ideologias neutras, as que são a busca de algo melhor, a luta pelo bom.