22 de março de 2011

Pense nisso.


"Odeio dias cinza"
Foi o meu primeiro pensamento ao acordar. Já não bastava ser uma segunda-feira, onde eu deveria voltar àquela rotina chata que estava me matando, ainda estava o céu mais escuro que já vi em toda a minha vida. Ia cair um toró e eu ia enfrentar aquelas longas e quilométricas filas de carros.
Normalmente eu não era assim. Costumava gostar das segundas-feiras e de todos os outros dias, eu sempre via algo de bom, mesmo em dias assim. Mas sabe quando se está cansada de sorrir, de pintar cores e simplesmente ninguém nota, ninguém vê ou se importa? 
"CANSEI"
E esse dia foi mesmo igual àquele céu em cima, sem cor.
Cobranças, pressão. Antigamente eu adorava o meu trabalho, eu estava ali onde sonhei a vida toda, mas aos poucos eu fui me desanimando desacreditando em mim mesma.
E os dias iam passando naquela mesma rotina estranha, trabalho-casa, casa-trabalho. Não sabia dos meus amigos há algumas semanas e minha família? Eu não sabia deles também.
Assim que cheguei daquele dia chato, percebi que não tinha nada na dispensa e lá fui eu enfrentar a chuva novamente, mas dessa vez resolvi ir a pé. Não sei porque mas eu queria sentir o vento mais perto de mim.
Fui andando e vendo as pessoas apressadas, com medo daqueles pingos d'água. Era engraçado como simples gotas caindo do céu assustava tanta gente.
Muita gente estava me olhando enquanto eu caminhava e eu sabia que era por conta daquelas minhas botas de borracha amarelas. Depois de um certo tempo eu comecei a ser bem mais preocupada com a contaminação de águas da chuva e não saia numa chuva assim sem elas. E é, ficava bem engraçado nos meus pés, eram maiores que eles.
Ainda na minha caminhada avistei um lugar conhecido. Era uma espécie de praça com um vasto campo de grama onde eu costumava ir com meus amigos ver a vida passar, tocar violão, falar besteiras e comer doce. 
Olhei para baixo e sorri com saudade.
O que eu havia me tornado? Eu era tão livre de tudo, tão cheia de planos mirabolantes para salvar o mundo, para fazer a diferença.. e lá estava eu, com medo da chuva. Não era assim que eu queria ser.
Num impulso de nostalgia e rebeldia (a mim mesma) sai correndo pelas ruas sem olhar para o lado, adentrei naquela praça amiga e pisei na maior poça de água que eu encontrei. Soltei o guarda-chuva, olhei para cima e gritei um "MUITO OBRIGADA" aos céus por ter me alertado da bobeira que estava fazendo antes que fosse tarde demais.
Essa sim sou eu.
E depois da chuva toda, liguei para minha mãe e falei sem parar sobre tudo que acontecia nessa cidade diferente, disse que estava com saudades e que no fim de semana que estava por vir iria vê-la sem falta. E quanto aos amigos? Eu estou indo agora para um daqueles nossos encontros sem por que. E agora eu voltei a acreditar em mim.
Ainda há tempo de ser quem você é. Pense nisso.

5 comentários:

Larissa Lins disse...

Quanta energia positiva nesse texto. Pude sentir e te agradeço por isso, foi revigorante imaginar a chuva, o desânimo e em seguida a renovação do estado de espírito mais próximo da felicidade. Que lindo.

Rodolpho Padovani disse...

Acho que são em momentos que estamos prestes a nos perder que finalmente nos encontramos. Nada como olhar para trás, enxergar o erro e poder mudar as atitudes futuras.
É bom acreditar que isso é possível.

Beijos.

Marcelo R. Rezende disse...

Sempre há tempo, mesmo que o tempo esteja no fim, porque ser a si mesmo é a melhor dádiva da vida, talvez seja o presente que nos é cabido, mas não percebemos.


Beijo.

Inercya disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Inercya disse...

Quando tudo não faz diferença, quando tudo não mais importa e a gente se cansa de ser como era. A vida fica cinza, como o céu em dia de chuva. Mas nada como um dia assim para nos alertar do que estamos perdendo.
Conto inspirado na imagem? (:
Estou pensando em fazer isso também, imagem nos inspiram haha
De todo jeito, adorei esse conto. Achei fantástico!
:*