15 de setembro de 2011

Sobre o recomeço e o amor

"Você foi embora e nem me deu um adeus digno. Só foi, com aquele seu sorriso cara de pau estampado no rosto, soltando aquelas palavras melodramáticas que faria qualquer um acreditar em você, menos eu.
Fazia tempos que eu vivia somente para você, que quando me vi sozinho fiquei sem rumo, sem ter por quê.
Sabe como é? Até hoje eu não aprendi..."
- AH NÃO CLAUDIO!
Fui interrompido grosseiramente pela minha delicada melhor amiga, Clarice. Ela sempre odiou o fato de eu ainda sentir falta de alguém que, ao ver dela, nunca foi amor pra mim.
- Você poderia ser um pouco menos dramática, sabia? Ser mais compreensível, sei lá. Você deve ter um cubo de gelo no lugar do coração, aposto com quem quiser.
- Ha ha ha. Como você é engraçado.
Clarice era uma menina baixinha, tinha olhos castanhos bonitos e um cabelo encaracolado que eu adorava brincar. Falava de um jeito engraçado, com poucas pausas. E hoje, o seu sorriso parecia mais bonito que nos outros dias.
- Vem, levanta daí, vamos sair desse quarto que até você está com cheiro de mofo. Sei lá cara, ela foi embora. Foi assim. Ela que quis. Qual foi a parte do 'ela te largou' que você ainda não entendeu?
Por pior que fosse ouvir isso, ela estava certa. A Natália tinha sonhos e planos e resolveu se mudar para a capital para correr atrás do sucesso que tanto almejava. Azar o meu.
Eu ri. Apesar da tristeza remota que passou pela minha cabeça. Minha amiga estava ali lutando por mim. 
- Está bem, está bem... você me convenceu. E agora, saio daqui e vamos para onde?
- Viver meu caro, viver!
Ri de novo. Essa Clarice era mesmo uma figurinha. Fomos para praia, joguei água nela e eu achei que ela ia chorar quando fez um bico do tamanho do mundo e me xingou, depois entramos no shopping e resolvemos tomar o maior sorvete que tinha, com todas os confeites e granulados que existiam, não foi uma boa ideia.
- Ah... eu tô passando mal.
- Claro, colocou um pote enorme de sorvete e ainda todos os adereços do mundo. De doce virou veneno, eu aposto Claudio. Eu também não estou nada bem, que ódio, eu sempre caio na sua brincadeira e me dou mal.
Ela fez uma cara tão engraçada de raiva e de enjoo que eu não aguentei e me acabei numa gargalhada, logo ela foi junto. Aos poucos fomos nos aquietando, um olhando para o outro. Mas um olhar que procura algo a mais, sabe? Dentro dos olhos, lá por de trás da alma. E algo inusitado aconteceu. A menina espevitada corou e baixou a cabeça com um sorriso de canto de boca e me disse, dessa vez pausadamente:
- O amor é muito mais do que você pensou sentir, é só você se deixar tocar de verdade. Não por uma paixão, que vem e vai instantâneamente, mas por um alguém que tenha a alma gêmea a sua, que te faça feliz,  de verdade e sem cobranças, que te deixe livre para ser você mesmo. O amor é um só Claudio, não perca tempo com paixonite enquanto poderia já estar com ele.
Fiquei estatelado, sem ação. Um bobo, idiota. Menino ao invés de um homem de 22 anos, como eu costumava me achar naquela época. Demorou até eu entender e colocar todas aquelas palavras da Clarice no lugar. Hoje, meus netos dão rizada da minha falta de maturidade e de jogo de cintura da época e ficam vangloriando a avó que até hoje faz gozação da minha cara e me chama de lerdo. Acreditam que a Dona Clarice, depois dos nossos primeiros 10 anos juntos confessou que me amava desde o início?
É. As vezes nós ficamos cegos para o verdadeiro amor. Cabe a nós mesmos nos desvendar.
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Esse post foi feito com a sugestão de três queridos: 
@tkzthiago ,@tweetlila @lelly_rocha.
Eles me deram a sugestão sobre postar sobre, em resumo, separações que parecem ser ruins mas que vem para um recomeço muito bom. Daí surgiu o conto, espero que tenham gostado.
 

4 comentários:

Evellynn Rocha. disse...

"- O amor é muito mais do que você pensou sentir, é só você se deixar tocar de verdade. Não por uma paixão, que vem e vai instantâneamente, mas por um alguém que tenha a alma gêmea a sua, que te faça feliz, de verdade e sem cobranças, que te deixe livre para ser você mesmo. O amor é um só Claudio, não perca tempo com paixonite enquanto poderia já estar com ele."

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAMEI ESSA PARTE MAIS DO QUE TODAS! *-*

Ficou tão lindo velho, viu viu viu que a sugestão estava ao seu alcance? PARABÉNS! EU AMEI!

Thiago Ribeiro disse...

aDOREI Jéssica, Eu não disse que ia ficar lindo, Te conheço rapá! Minha assessora é uma escritora nata! Nem sempre a separação é ruim. ela nos impulsiona a busca algo novo e muitas vezes melhor! bjkão!

Lila disse...

Quantas oportunidades perdemos por medo de recomeçar? Ficamos acomodados com aquela idéia de que uma-hora-tudo-muda, nos conformamos com pequenas migalhas de sentimentos, felicidade a conta-gotas, presos a coisas tão pequenas diante da imensidão do amor que merecemos. Às vezes levamos anos para perceber que isso não é VIDA não. O AMOR é mais, muito mais do que imaginamos. Amor é de corpo inteiro, transcende, transpira, transborda. Surpreende, sem nada inventar, sem precisar exagerar, sem ter que sempre entender. Simplesmente ser... preencher, existir! "Dentro dos olhos, lá por de trás da alma." ^^ Lindo isso, lindo o seu texto. Vc é muito talentosa, menina! Não desista disso não! Os poetas possuem uma alma diferenciada, e isso a gente percebe logo de cara quando te vê. Um beijo, florzinha. Te adoro muito.

Anônimo disse...

Que história inda, amei Jéssica.

As vezes toda a felicidade que se procura ao longe está tão perto né?

Beijos!